👋 Olá, o meu nome é Jorge. Bem-vindo a mais uma edição da minha newsletter. Tenho como objetivo acelerar a literacia financeira e ajudar a ‘descomplicar’ o conceito de investir, em Portugal. Invisto desde 2018.
Todos nós já lemos uma ou outra versão do seguinte texto: "pior ano no que diz respeito a investir em 2022", e é algo parecido com isto:
"Este foi o pior ano para investir desde [inserir data há muito, muito tempo atrás] para [inserir qualquer tipo de investimento e a maioria de qualquer classe de ativos].
“Looking back to 1977 using the Bloomberg US Aggregate Index, you can see that 2022 is the worst year for bonds” - Forbes
Aqui vai a minha versão da annual letter 2022. E sim foi um ano verdadeiramente abominável para investidores de todos os tipos de ativos. Tendo começado a investir em 2017/2018, é a primeira vez que senti na pele algo desta natureza e com esta violência, nos mercados.
O Covid Crash nos mercados foi como tirar um penso rápido quando comparado com o atual mercado.
2022 foi deveras uma bela lição de humildade a todos aqueles que investem e tentam bater o mercado. No entanto, acredito que qualquer investidor deverá querer experimentar um ano assim o mais cedo possível na sua carreira de investimento. Porquê?
Porque os ensinamentos que advêm destes momentos são mais baratos no início, quando temos menos capital investido.
E é ao refletir sobre o ano passado, podemos ponderar as ilações (certas) que podemos aprender.
E é tentador tirar as ilações erradas… Como foi um ano tão mau para todos aqueles que investem na bolsa, em especial em Tech e Software as a Service (SaaS) mais parece que a única coisa que "teria funcionado" era NÃO INVESTIR de todo. Mais vale deixar o dinheiro na conta à ordem.
Só que ambos sabemos que esse argumento é falacioso e não é viável a longo prazo!(especialmente agora com a inflação)
Sabemos não sabemos?.. sim estou a falar de nós, eu e tu, caro leitor.
Bom, portanto, vamos então aprender as lições certas.
Observação #1: Existem maus períodos para investir em acções
Basta olhar para o S&P 500 - o famoso índice na bolsa que acompanha o desempenho das 500 maiores empresas cotadas nos Estados Unidos. Muitas vezes o benchmark para a solidez geral da economia dos Estados Unidos.
Como podes ver acima, 2022 foi um mau ano para investir em ações… Assim como 2018, 2008, 2002, 2001, 2000 e 1990. Simplesmente, não é possível prever o que vai acontecer.
A lição certa: é estar preparado para as flutuações do mercado em qualquer altura. Para eu e tu, que ainda estamos a trabalhar e recebemos um salário mensal, um drawdown como este, é apenas uma excelente oportunidade de acumular ativos a preços mais baixos. E também representa uma oportunidade de adquirir a mentalidade certa - de ficar confortável com a ideia que vamos investindo consistentemente ao longo do tempo, e por consequência vamos comprar ações e ETFs tanto em pontos altos como baixos do mercado.
A lição errada: é pensar que isto iria acontecer, e que deveríamos ter previsto, feito timing the market e colocar o nosso dinheiro debaixo do colchão até que este ano.
Observação #2: Os efeitos macroeconómicos como a Inflação e as Taxas de Juro pesam mais nas minhas decisões do que o previsto.
Para aqueles que me conhecem, sempre me ouviram dizer algo como: Não me importo com os desenvolvimentos macro, eu invisto nas melhores empresas que por sua vez resistiram a estes eventos macro e por sua vez valorizarão.
A lição certa: Bem, parece que é um pouco mais complexo do que isso Jorge. Porque as empresas não existem no vácuo. Existem dentro de um contexto macro mais amplo de forças sociais, tecnológicas, políticas, ambientais, legais e económicas.
E embora, ninguém poderia ter previsto um ano com: inflação, subidas das taxa de juro, uma crise energética na Europa, exacerbada por tensões geopolíticas e até mesmo pela guerra. Acrescentando ainda resquícios da pandemia e o medo da recessão.
Que este ano, em que todas estas forças macro negativas surgiram de uma só vez, sirva de lembrete para mim em ocasiões futuras.
Em suma, as forças macro influenciam as empresas individuais. E por vezes essas forças macro são tão poderosas que não é completo avaliar o desempenho de uma empresa individual sem referência à força macro em particular - estou a falar de ti Upstart.
A lição errada: "É preciso prestar mais atenção às condições macro e tentar reagir a ela".
Observação #3: As ações de Tech e Software as a Service (SaaS) foram absolutamente destruídas este ano.
Não há uma forma fácil de o contornar.
As ações de Tech e Software as a Service (SaaS) foram destruídas, mas não foram as únicas que caíram. Caiu tudo e mais alguma coisa. Para onde quer olhasses o mercado estava em vermelhos.. Obrigações? Crypto? O famoso portfólio 60/40 que supostamente era a prova de bala e agora já não? Pois.. Imóveis? Não sou perito, mas esses dizem que uma queda é iminente.
Podes ver por ti mesmo abaixo:
A lição certa: Sim, as SaaS têm um modelo de negócio fantástico com margens brutas mais de 70%, receitas anuais recorrentes, NRR e ARR altas, e beneficiam de modelos de subscrição (o que significa não ter de começar do 0 a cada trimestre)... mas nenhum modelo de negócio é infalível. Não são imunes às flutuações do mercado e às reviravoltas económicas e como tal, no futuro, devo ajustar as minhas expectativas com base na economia atual e nas valorizações ajustadas.
A lição errada: ‘‘Escolhi as ações erradas’’ Falando em grandes números o NASDAQ desvalorizou 34% em 2022, com nomes como a Tesla e Meta (Facebook) a cair cerca de 70-60%, Amazon 50%, Google (Alphabet) cerca de 35%, e Apple e Microsoft tanto cerca de 30%... Quando estas empresas perdem pelo menos um terço do seu valor de mercado num único ano, imagina as outras.
Tendo começado a investir em 2017/2018, e apenas com 5 anos de experiência nos mercados, para mim é a primeira vez que as 6 maiores empresas do mundo caem desta forma. Talvez seja diferente para aqueles que viveram 2008 como investidores, mas eu só cheguei ao mercado 10 anos mais tarde.
Não estou a dar desculpas; apenas pareceu um grande ano para a lei de Murphy.
“Qualquer coisa que possa ocorrer mal, ocorrerá mal, no pior momento possível”.
Para concluir com uma nota mais feliz. O objectivo para 2023 permanece o mesmo: comprar as melhores empresas e manter na carteira aquelas que demonstrem excelentes tendências a longo prazo.
E o passado ano foi ótimo para adquirir excelentes empresas a preços de desconto.