👋 Olá, o meu nome é Jorge. Bem-vindo a mais uma edição da minha newsletter. Tenho como objetivo acelerar a literacia financeira e ajudar a ‘descomplicar’ o conceito de investir, em Portugal. Invisto desde 2018.
A frase "ser ou não ser, eis a questão", foi escrita por William Shakespeare na primeira cena do terceiro ato na peça Hamlet.
Hoje, trago outra questão na mesma dimensão - orçamentar ou não orçamentar, eis a questão!
Grande parte dos gurus das finanças vão te dizer que o primeiro passo para meteres os teus assuntos financeiros em ordem é fazer um orçamento. Registar os gastos e saídas. Eles não estão errados mas eu raramente o faço em hoje em dia, talvez já tenha este músculo financeiro mais trabalhado de quando o fazia.
Existe inúmeras formas de gerir orçamentos e cada um deve encontrar aquela que lhe faz mais sentido. Hoje vou-te falar da minha.
Qualquer um interessado em finanças pessoais que já pesquisou a arte de fazer um budget encontrou exemplos de orçamentos, sendo o mais popular a regra 50/30/20.
A regra sugere dividir os teus rendimentos mensais líquidos em três categorias de gastos. Ao manteres regularmente as tuas despesas equilibradas entre estas áreas de gastos, estarás mais consciente dos teus hábitos de consumo e vais evitar gastos excessivos.
De acordo com a regra, o teu dinheiro deve ser alocado da seguinte maneira:
50% para as tuas necessidades e bens essenciais como a renda e alimentação.
30% para os teus desejos: uma componente variável associada a despesas relativas ao estilo de vida, restaurantes, roupa, entretenimento e viagens.
20% para poupanças ou, melhor ainda investimentos. Já sabes que eu acho que Investir > Poupar.
Enquanto que esta regra 50/30/20, através da alocação a “caixinhas” simplifica muito o complicado tema que é gerir o nosso dinheiro, é importante reconhecer as limitações da simplificação.
Estou a falar dos one-offs no teu budget, aquelas despesas únicas que não tomaste em consideração quando elaboraste o teu budget. E existe uma tendência para subestimar a frequência e quanto despendes nestes gastos. (Eu sei que sou culpado disto! .. e por isso budgets não funcionam bem comigo)
São gastos “isolados” de uma só vez, por isso dizemos a nós próprios que é okay gastar mais um bocadinho do que estávamos à espera.
Pensa comigo,
O teu amigo que vive no estrangeiro veio visitar-te então é okay ir jantar fora ao novo restaurante fancy do bairro e sair a noite como se não houvesse amanhã.
A tua artista preferida, vamos dizer Taylor Swift, está na cidade apenas por uma noite, os bilhetes custam 500 euros, mas ela só vai estar cá uma vez.
É o décimo aniversário do vosso namoro, e isso só acontece uma vez na vida.
Eu, tu e todos nós convecemo-nos que estes gastos únicos são pouco frequentes e por isso valem gastar um pouco mais.
Sim há que aproveitar a vida, mas ou o fazes q.b. ou ajustas o teu budget a prever estas compras miscelâneas.
Aqui exponho algumas das principais razões pelo qual os orçamentos genéricos falham na vida real. Não há nada de errado com o teu excel todo XPTO mas quando o construíste não consideraste estes gastos.
De igual forma a regra 50/30/20 diz que vais poupar e investir esses 20% do teu salário liquido mas devido aos gastos únicos, não vais conseguir em certos meses.
Subestimar os teus gastos é meio caminho andado para sobrestimar as tuas poupanças.
Vamos dizer que no final de um destes meses de gastos one-offs apenas te sobrou 10% do teu salário liquido para investir. Estas a cortar para metade os teus objetivos financeiros - parece óbvio, eu sei! Mas repara aqui como uns meros pontos decimais te podem atrasar em anos!
E embora seja verdade que qualquer uma das despesas acima mencionadas não se repetirá tão cedo, vai haver sempre uma circunstância excepcional que exige que gastes mais dinheiro do que estavas a contar.
Isso é apenas a vida (há que desfrutar desses momentos) e os seus eventos aleatórios que estão sempre a acontecer que não encaixam num modelo de excel genérico.
Como se diz, o diabo esta nos detalhes. E este detalhes podem fazer com que o teu budget não funcione.
Porque que é isto importa? Porque poupar menos daquilo que tinhas planeado, inevitavelmente, vai adiar o teu conforto financeiro, a tua reforma e os teus objetivos financeiros.
O que funciona para mim?
Vamos falar como resolver a situação e o que funcionou para mim.
Já usei inúmeros budgets, via app ou excel, fosse meu ou de outra pessoa. Para além dos gastos únicos outro problema que encontrava sempre era a consistência. E como a Rita partilha, fazer um orçamento familiar não é sexy. A consistência de meter todos os teus gastos ao cêntimo, todos os dias durante meses, é no mínimo chato. Mas só assim é que o budget vai funcionar, caso contrário: inútil.
Então o que eu faço: mal recebo meu salário, eu pago-me a mim mesmo.
Na prática, isto significa que eu vou imediatamente separar e investir uma % fixa do meu salário.
Assumindo que ganho 1000 euros líquidos, eu vou imediatamente separar 40% desse valor. Estes 400 euros eu nem os vejo na minha conta, vão diretos para o meu broker onde depois eu invisto o valor.
Side note: Escolho em investir uma % porque mesmo que o meu salário aumente, eu vou aumentar a minha % de dinheiro investido, o que por sua vez vai reduzir o número de anos que eu vou ter de esperar para chegar ao meu número de liberdade financeira.
É como se estes 400 euros nunca existissem. Ao investir o valor estou também a “bloquear” e remover a tentação de gastar esse dinheiro.
Isto porque assim que eles chegam a minha corretora vão ser investidos na compra do ETF mensal ou alguma ação individual que eu acho que me pode trazer retornos.
Bem simples, não? A melhor estratégia é por vezes a menos complexa de executar.
"Don't save what is left after spending. Spend what is left after saving.”
- Warren Buffett
Obrigado por leres. Vamos falando, bons investimentos!
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Aqui vais encontrar informação e opiniões do autor, o que não vais encontrar é aconselhamento individual nem recomendações.
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Esta newsletter é para os investidores que conseguem tomar as suas decisões de investimento sem aconselhamento. Não sendo analista financeiro o autor não providencia aconselhamento individual nem recomendações de investimentos.
Adicionalmente é importante tomar as próprias decisões e verificares por ti mesmo, de forma independente, os factos e dados apresentados, apesar da informação aqui constatada ser obtida de fontes que acredito serem fidedignas.
Obrigada pela menção, Jorge :)
Gostei do facto de mostrares que normalmente os orçamentos que fazemos não contemplam as excepções, os momentos de festa, os casamentos. E se esperarmos até ao final do mês, então vamos sempre poupar pouco e isso é um desserviço para connosco e o nosso futuro.
Acho sempre importante fazer o orçamento para termos ideia dos nossos hábitos. Eu faço mensalmente as contas, e quero melhorar isso para perceber se, de facto, estou a fazer os 50/30/20 (porque se calhar as despesas da casa são menos de 50%, mas a diversão está acima do esperado!).
Eu faço como tu: tenho uma poupança automática para 1 PPR e uma poupança automática para o meu fundo de emergência, por assim dizer. Agora quero fazer uma transferência automática para investir em ETFs todos os meses (em vez de esperar por um momento certo). Se retirarmos o dinheiro logo no início do mês, estamos a preparar o nosso futuro. Deve custar imenso a quem ganha pouco, mas é uma ajuda inacreditável daqui a 2,5,10 anos.